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sábado, 30 de abril de 2011

Foi


Era flor.
Quando vi
era doce.
Quando vi
era vinho.
Perdi a flor.
Perdi o doce.
Derramei o vinho.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

Tuas romãs

Foto: Emerson Vasconcelos 
(que sabe aproveitar uma manhã de chuva)

Se fosse teu o meu beijo,
Seriam minhas tuas romãs
E lhes esmagaria as sementes
E lhes roubaria o suco
Que deixaria a fermentar.
Se fosse teu o meu beijo,
Do pálido rosa ao vermelho rubi,
Tuas romãs se fariam vinho,
Suave e delicado, a derramar-se 
Na brancura dos lírios da barra
Dos meus lençóis de carmim.

sábado, 23 de abril de 2011

Ressurreição (ou Esperanças na prateleira)


Orgulhosos, descobrimos outro caminho.
No ponto mais alto, sujeitos protegidos do sofrimento:
de um lado, um eu preparado para a desatenção;
do outro lado, um eu que dispensa cuidados.
Ergue-se nova prisão: o paradigma de desconfiança,
cujas paredes são feitas desse espírito comercial da vida íntima.
Como alimento, a ressurreição diária de nossos desejos
através de renovadas promessas,
contidas em inéditos kits identitários.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

De não saber

De brincadeira

De não saber

dou-me a dizer.
De tanto dizer
às vezes penso que sei.


Gosta de histórias? Pela hora da morte.

domingo, 17 de abril de 2011

Florquesou



Sou 'alamanda amarela' (Allamanda cathartica): comum por estas bandas e capaz de existir no mundo inteiro. Suas sementes são numerosas, mas ficam dentro de frutos do tipo cápsulas. Gosta de sol. Eficiente, de modo discreto, no combate a certas pragas. Seus ramos são tão flexíveis que podem enrolar-se em si mesmos. Assim pode até parecer o que não é.


Provocação de Nena.

sábado, 16 de abril de 2011

O mais rico dos reinos


Conto criado para o Projeto 2008 da Nossa Escola: "A Palavra Guarda o Mundo".


Em um reino muito distante daqui, havia grande riqueza escondida, à qual nenhuma outra se comparava. Durante os tempos, era o que se dizia, mas ninguém de fato conhecia o tesouro do rei Solécios.

Pelo valor que se atribuía aos bens, outros reinos já haviam planejado empreender batalhas, mas desistiam porque não logravam descobrir onde era guardada tanta... talvez incontáveis dobrões de ouro.

O povo não parecia mesmo viver em um lugar provido de tantos bens. A todos parecia que faltava luz. Olhos sem expressão, sorrisos vazios, sins e nãos sem razão. Apenas o rei e os membros de sua corte desfrutavam de parte do que possuía e que ficava trancado a sete chaves três vezes, em uma das salas de seu gigantesco palácio.

Assim foi durante muito tempo, tanto que o calendário não consegue contar, até que, num dia comum, em que os camponeses semeavam a terra, cultivavam sementes e colhiam frutos para entregá-los, todos, ao rei, as trombetas soaram da torre mais alta e anunciaram que o trono estava vazio. O rei Solécios morrera.

Esgotada a reserva de lamentos – nunca se ouvira tantos ohs! e ahs! – chegara o dia da coroação do novo soberano. Alguém daria rumo àquela gente. Naturalmente, assumiu o trono o príncipe Filos, único herdeiro do rei morto.

Logo após a festa da coroação, o chefe da guarda trouxe uma má notícia: o rei de umas terras vizinhas aproveitou-se da nova situação e, acreditando na fragilidade do herdeiro de Solécios, determinava que, no prazo de dois dias, confiassem-lhe seus bens. Fazia tal exigência alegando que tudo o que parecia ser do reino de Filos havia sido roubado de seu reino, há muitos e muitos anos. E concluiu dizendo que decretaria guerra entre os dois territórios, caso seu desejo não fosse atendido.

Filos estava certo de que não poderia contar com vantagens de seu exército, pois seus soldados eram em menor número. Pedir ajuda ao rei das terras ao sul de seu país de nada adiantaria, pois, pela distância, a ajuda só chegaria quando nada mais houvesse a fazer. Ele não tinha dúvida de que deveria proteger seus súditos, mas desejava fazer isso de modo a não haver derramamento de sangue. Que estratégia usaria?

Ao final daquele dia, sob uma lua de cristal, a Filos foi anunciada a presença de Selena. A bela moça de olhos marrom-tâmara tinha um segredo a revelar. Neste encontro, o rei soube que o argumento de seu adversário era verdadeiro. Sua riqueza não era legítima. Lembrou-se então do pequeno baú com que a mãe o presenteara quando ele era criança ainda, beirando os cinco anos. O conteúdo do baú era, verdadeiramente, a maior riqueza que possuía, mas pela qual seu pai só se interessara em parte. Considerando isso, Filos decidiu entregar ao adversário a caixa e seu tesouro.

O encontro foi marcado. Na hora combinada, os dois cavaleiros estavam no meio da ponte erguida sobre o rio que dividia seus domínios. De um embornal, o rei Filos retirou o precioso objeto como prometera. Desapontado com o tamanho do baú, seu adversário ameaçou guerra novamente, caso não ficasse satisfeito com o tesouro ali contido. Ao abri-lo, o que fez bruscamente, um facho luminoso espalhou-se por toda aquela região. No ar, aquela luz foi tomando forma de palavras, que se uniram formando três frases. O rei que proclamava guerra, paralisado pela surpresa, viu que a primeira frase dizia: “Ouça a palavra”. Na segunda, leu: “Pense na palavra”. A terceira frase concluía: “Faça a palavra”.

Cada um dos monarcas voltou às suas próprias terras e encontrou seu povo diferente. Naquelas paragens, onde antes quase não se via prosa, agora havia até poesia; onde antes os sábios guardavam segredos, agora contavam histórias de coragens e medos; onde antes as palavras, trancafiadas dentro das mesmas pessoas, causavam até indigestão, agora se viam soltas. Às vezes, faziam silêncio, às vezes não. Umas palavras ouviam as outras e, juntas, faziam nova palavração.

Agora é a sua vez.
Cada um tem seu baú
E pode descobrir, lá no fundo,
Que a palavra guarda o mundo.

Mas antes fique sabendo que o rei Filos ficou agradavelmente surpreso com a atitude de Selena, por quem se apaixonou. Logo lhe propôs casamento, e ela lhe respondeu com uma palavra de apenas três letras. Como dizem as boas histórias, se não morreram, estão vivendo felizes até hoje.


Conto criado para o Projeto 2008 da Nossa Escola: "A Palavra Guarda o Mundo".
Você também pode gostar de ler, para adultos, Roteiros.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Eu, por mim...



"É tempo de murici,
cada um cuida de si."
I don't care, I don't care.
É mentira, pois eu quero
saber o que você sente, 
sentir o gosto do povo.
It is not my business.
O problema é de quem fez.
Mais mentira! Eu dispenso
o que diz o seu inglês.
Tamarindo em Canudos,
quando viu fechar o tempo,
azedou-se em covardia
e começou o movimento:
Um por todos? Nem pensar
Todos por um? Pode esquecer.
"É tempo de murici,
cada um cuida de si."
Eu, por mim,
ainda teimo em compartir.

domingo, 10 de abril de 2011

Com tensão

Sem tensão / Foto:Aglacy Mary


Não lhe peço nada
Se veio aqui, terá somente a dor
E o calor de meu desejo
Que a ninguém mais interessa
Não tenho calma
Minh’alma se apressa
De sair da linha
Romper estâncias
Sem tempo para chegar
Nem lugar
Não lhe quero nada
Não me quero dada
Se pode, rasgue a contenção
De minha palavra
E percorra-a, farta
Louca
Amarga


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Se a mim me parece...

Carnaval de rua / Foto: Aglacy Mary


Eu minto 
quando digo que isto é aquilo,
mesmo carregando comigo a crença 
de que isto é realmente aquilo?