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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Eu conto na rádio - A CAÇADA

A CAÇADA

Conto Popular recontado por Ricardo Sérgio, no Recanto das Letras, adaptado por Aglacy Mary para o Programa Mural - Rádio Aperipê FM 104,9 - Aracaju-Sergipe



O sujeito era muito disposto, do tipo valente. Em tempo de folga, gostava de uma boa caçada. Dia desses foi então a uma, num lugar onde diziam haver cada onça que é mesmo um perigo.
— Que perigo nada! ele dizia Não aparece pintada nenhuma! É tudo conversa fiada.
Mas não é que lhe apareceu uma onça macha e se bandeou pro lado dele?  Ele  contou tudinho como foi, e eu vou contar agora pra vocês, a fim de que se cuidem pro caso de toparem com uma dessas por aí.  Então o sujeito foi contando assim: 
A onça percebeu em mim um sinalzinho de vacilação e veio feito gato querendo pegar passarinho: deitada, vinha se chegando devagarzinho, com a barriga no chão, numa maciota, só com o rabo balançando, os olhos alumiando verde e as presas enormes começando a brotar dos cantos da boca.
Eu engatilhei minha espingarda de dois canos e esperei. Quando a onça apanhou certa distância, taquei-lhe fogo... Tei! Que tei que nada que o tiro falhou.
Mas aí eu disparei o outro cano. Ele negou fogo.
Então, ora essa! Num pronto catei meu facão de mato pra esperar a "bicha" e não queria saber de talvez. Mas o facão não tava na bainha; eu tinha perdido na mata ou esquecido em casa, com a pressa de sair.
Armei os braços e fiz cara feia pra enfrentar a diaba. Afinal, sou ou não sou um cabra destemido? Humpf! Meti medo nenhum na fera, que fez cara bem pior que a minha.
Foi quando apelei pra fé que nem sempre tenho em Deus. Botei os joelhos no chão devagarzinho pra não assustar a pintada , fechei os olhos e comecei a pedir: Senhor, faça com que essa onça tenha princípios cristãos! Abri um olho pra medir a força da minha oração e vi que a fera tava ali, parada, com cara de quem pedia assim, na sua  própria reza: Senhor, abençoai esse alimento que vou comer agora.
Ah! Mano velho! Vou lhe dizer... nesse caso, não houve outro remédio: pernas pra que te quero. E a onça, vindo que vindo, quase me apanhando. As patas da danada já andavam no meu calcanhar, e eu sentindo um bafo quente no meu cangote.
Sem mais demora, fui pra perto de um angico novo, que eu me lembrei que em pau fino onça não sobe, porque não consegue agarrar com as munhecas.  Pois foi aí que se deu o melhor da história. Felizmente a bicha escorregou. Mas foi um senhor escorregão. Passou deslizando no mato, feito a prancha de Saulinho na onda. Foi  o tempo de eu subir no pau fino e ficar ali, zombando da cara dela até ver que cansou e foi embora. Ufa!
Terminado o caso, todo mundo achou esse sujeito muito corajoso mesmo. Ricardo Gama, que tava na roda, ouvindo tudo, até disse assim: Ô Zé, eu confesso. No seu lugar eu ia era borrar as calças de tanto medo. E o caçador valente respondeu: E no que é que você acha que a onça escorregou?

Agora você pode ler Roteiros.

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