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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Lençóis de uma infância


Dia das crianças, e eu aqui me lembrando daquelas brincadeiras... Não conheço quem conheça esta. Pelo menos a última parte dela. 

Primeiro a gente construía a família. Caneta, papel, tesoura e um bocado de capricho pra desenhar e recortar cada figura. Havia um pai, uma mãe, um casal de filhos mais velhos e um casal de filhos mais novos. Para os filhos adolescentes, eu desenhava um namorado e uma namorada, lembro disso. Cabelos crespos e cabelos lisos se misturavam repetindo a vida real das meninas brincantes. O pai era mais alto que a mãe.

O recorte era um capítulo à parte, desafio que eu apreciava. Os cabelos, os dedos, o espaço entre as pernas, o salto do sapato. Todo cuidado era pouco para não amputar os personagens antes de nascidos. Minhas irmãs mais novas ficavam na expectativa do resultado da minha habilidade de usar a tesoura de costura de mamãe para animar os desenhos. Ha! Criança usava a tesoura de ponta da mãe e não se cortava, e raramente cortava o que não devia. Na minha casa era assim. Se bem que eu já era uma menina crescida, e as irmãs mais novas apenas assistiam ao meu engenho. Sem contar que mãe era um personagem que estava sempre por perto.

Os desenhos! Volto a eles. Apesar da moda de papéis finos para cópia de modelos a que todos aderimos, apesar do estímulo dos adultos ao fato de eu conseguir reproduzir fielmente as figuras, reduzindo ou ampliando o tamanho, eu também gostava de inventar os meus próprios. isso era ótimo, porque nunca estava absolutamente certa do resultado da criação. 

Bonecos prontos, a família precisava de um carro. Nada que uma caixa de creme dental não pudesse resolver. Quatro portas, conversível. Ai, ai... parece que estou com um em minhas mãos, agora. Os carros ficavam lindos.

Agora, sim, a construção mais curiosa. A casa. Para a construção da casa, precisávamos apenas de um lençol e da cama de papai e mamãe. Era só subir na cama, lançar o lençol para o alto e esperar o seu pouso. O próximo movimento era olhar as dobras e enxergar o que formavam. Aqui a sala; naquelas ondas de tecido, os quartos; vê a escada? Encontrávamos até a garagem para o carro. E havia sempre um banco comprido, muito parecido com o de nossa casa, que era onde a filha mais velha ia namorar.

Casinha feita de lençol. Ainda não conheço quem brincou assim. É certo que tínhamos também o pé da máquina Singer de minha mãe, que era outra modalidade de casa. Linda, por sinal. Mas a de lençol era coisa muito diferente e sempre nova.

Coisa boa essa de não depender da novidade lançada pela maior indústria de brinquedos do mercado pra ser feliz.


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