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sábado, 16 de outubro de 2010

"Pedagogia não!"

Recorte de painel do artista plástico José Fernandes
Restaurante do Camilo / Foto minha, fã do artista


"Pedagogia não!" Ouvi isso do professor de Física, do professor de Biologia, do professor de Química, do professor de Matemática. Um, mais que o outro,  empenhado em não me deixar "desperdiçar inteligência" e as notas 10 que me aprovariam em Medicina ou Direito. Por que teimei e desobedeci meus mestres?

Aos 17 anos de idade, encantada por desenho, pintura, poesia, redação do que fosse, palco de qualquer tipo, publicidade e umas coisas mais, listei possibilidades. Engenharia Civil veio primeiro, depois transformei a ideia em Arquitetura e mais tarde em Desenho Industrial. Pensei seriamente em Psicologia, Direito e Jornalismo, depois de uma adolescência em que brinquei de ser profissional das três áreas. Pelo gosto que tinha por escrever, pensei em Letras, mas tinha medo dos limites da atuação naquela área. Quanto a Medicina, nada de medo de sangue - "Então vai, menina!" -, mas o cotidiano da profissão, até onde pude conhecer, não me atraía. 

Quando pensei em Pedagogia, não sei bem por que, enxerguei a possibilidade de mobilizar mais conhecimentos do que eu via acontecer nas práticas dos profissionais que eu conhecia naquela área. Seria possível? Longe a ideia de ter escola; isso só me ocorreu há 20 anos. Imaginava que a prática pedagógica exigiria a busca de todo o conhecimento do mundo e que isso resolveria o drama decorrente do meu gosto tão diversificado. Demorei a confirmar isso.

O começo dos estudos foi enfadonho, e o intervalo entre as aulas, um desespero. Receitas de bolo e de como segurar marido, coriza de filho e tempo para a aposentadoria eram os assuntos do topo da lista entre as minhas colegas, cuja média de idade era 40 anos. Apenas um homem na classe. Professor de Economia e professor de Estatística empenhados em ridicularizar a mulherada, a começar pela lista de nomes; insatisfeitos por dar aula naquele curso; inconformados com uma aluna média 10. Disciplinas básicas com um conteúdo basiquinho demais para quem fizera o chamado curso científico.

No segundo período, a situação ficou bem mais animada, pois comecei a trabalhar com Educação Infantil - tivera antes disso uma experiência com Ensino Médio (uma garota ensinando a garotos de sua idade) - e a descobrir que toda a experiência humana cabia no espaço de uma sala de aula.

Mais um tempo, e a vida ganhou de vez jeito nobre. Educação elevada à arte.


Aprecie agora Céu de junho.

4 comentários:

  1. Digna de publicação em jornais e revistas. Aff, que texto ótimo! É isso mesmo que eu sinto, por isso quis ser professora: quando criança, só de observar você e Sheila, achava que esse negócio de ensinar era bom demais, divertido e criativo. Já era educação elevada à arte. E me encontrei na Nossa Escola. A engenheira química formada decidiu estudar letras e ensinar inglês e espanhol. Tudo elevado à arte. Coube tudo que sabia na sala de aula.

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  2. Também me vejo um pouco no seu texto. Essa é a nossa maravilhosa loucura.
    Abraço.

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  3. Acredito piamente que o conhecimento vem de dentro para fora do ser, mas sei que a presença daquele que acredita na elevação da arte é essencial para o parir de idéias.
    Parabéns!
    Um forte abraço!!!

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  4. "Educação elevada à arte"! Poucos conseguem entender o real significado e resignificar esta frase. Pois exige muito mais que estudo técnico e experiência em sala de aula. Exige transpor o limite do visível na educação e enxergar com o olhar de um educador, despido de preconceitos e falsos valores.
    Obrigada por me ensinar, todos os dias, a limpar a lente dos meus olhos.
    Clouse Marinho

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