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Foto: Aglacy Mary |
Fica famosa mais uma esquina de Aracaju. É fato que o fato nasceu numa sexta-feira dessas, mas se você ainda não soube disso, a famosidade acontece a partir de agora.
Havia um poste. Quem disse que os postes servem apenas para dar suporte a lâmpadas ou placas de rua? Esse anunciava o encontro da Pedro Calazans com a Maruim, ponto marcado para o encontro daqueles amigos num dia de boa folia momesca. Mas prometia mais. Estavam todos lá, para o início da festa. Músicos provavelmente bebiam água, comiam algo, esperavam a multidão se avolumar. Os da esquina, público fiel à rua, também esperavam. No meio da gente, o encontro com vários passantes, fofoca pra lá, risada pra cá e, sem música que animasse as pernas, elas começavam, naturalmente, a fazer revezamento de flexão para sustentar o peso do corpo, parado e meio enfadado.
A mulher de alguns outros bons carnavais fazia ali um esforço grande. Cliente assídua de agressivas primeiras sessões de fisioterapia, estava meio desconjuntada. Pensou que melhor, porém, seria a esquina que a cama, pois esta não lhe solucionaria os desconfortos da coluna vertebral. Coluna! Foi assim que veio o poste. O poste mesmo já estava lá. O que veio foi a ideia: espremer-se um pouco entre os populares e alcançar a haste firme que agora parecia só estar ali para isso. Solidários, os amigos se deslocaram para mais perto do poste também. Foi quando tiveram início o show e a saga.
Pernas nuas numa bermuda, a dona da esquina sentiu uma pele na sua pele, da batata para o tornozelo. Olhou para baixo e viu um bêbado clássico acabando de despencar, costas no seu poste. Ele bebia alguma coisa que trazia numa garrafa branca de plástico e exibia na mão esquerda uma aliança. Ela atacou por aí. "Meu amigo, sua mulher está preocupada com o senhor na rua; vá pra casa". Talvez pelo apelo ou muito provavelmente pela intromissão na sua agenda etílica, o homem levantou e cambaleou até a barra de madeira do carrinho de mão de um vendedor ambulante. Poste livre.
De vez em quando, o povo vai às ruas e esquece que elas têm moradores fiéis, como os cachorros vira-latas, que dispensam banheiro químico (alguns vira-copos também). Na falta de hábito de uso do vaso sanitário, o cachorro que enfrentou a folia e se sentiu apertado mirou exatamente no poste da Calazans com a Maruim. Já viu, né? Na metade da levantada de perna do bicho, a dona da barra de ferro esbravejou um "passa-totó" de espantar até os corajosos mosquitos da dengue.
Quando nada mais parecia ameaçar sua propriedade, a mulher recebeu convite para dançar juntinho. Isso não seria problema se a dança não a levasse para longe do poste. Arriscou, mas fez uma amiga prometer que não deixaria ninguém lhe tomar o monumento da esquina. Dançou. Um olho no par, outro no poste. Voltou logo a seu lugar, preservando as costas e o encosto.
A festa estava à altura do sétimo frevo quando outra moça teve a ideia de se apoiar, e duas mãos direitas seguraram o tal poste. Tudo quase bem. Havia espaço no comprimento do apoio, mas havia um problema de altura. Das mulheres. As baixinhas queriam manter a mão no mesmo pedaço do metal. Os movimentos que elas protagonizaram para disfarçar a disputa faziam lembrar uma exibição de "pole dance" e atraíram a atenção do público. Nossa personagem, mais ousada ou com mais ossos e músculos em processo de ajuste, manteve-se firme em seu propósito e ganhou novamente a exclusividade do espaço.
Daí em diante a história se perdeu na multidão, levada pelo "varre, varre, varre, vassourinha". Soube que, antes disso, boa textura de pele com agradável perfume pousou por ali, num mudo convite a um melhor descanso. A mulher lhe sentiu as costas convidativas, mas logo conferiu que tinham dona. Não fosse isso, certamente teria dispensado o poste. A qualquer hora passo por aquela esquina, apenas para saber...
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Foto: Aglacy Mary |
De Aglacy Mary