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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Vãos



medrosa de cachorros e de árvores
cúmplices das profecias de mãe nervosa,
a menina franzina
acendia no rosto as duas jabuticabas
e se embrenhava nos recônditos da casa,
a descobrir mundos por habitar.

povoou na sala o vão apertado
entre o assento e o braço do estofado
com pequenos tesouros de papel
modelados a pontas de firmes indicadores
e afiadas unhas de polegares,
tortos de mãe e de vó.

na segunda gaveta do móvel preto,
protegeu um formigueiro
consumidor de papéis
e de tolerância de mãe zelosa,
faz de conta que alheia
ao perfeito esconderijo.
de passagem secreta para o beco das plantas,
a casinha dos altos botijões de gás
(de onde se via o vaivém da cozinha)
virou lugar de sumiço
em tardes de crianças menos vigiadas
por adultos anfitriões.

a menina cresceu com uma vontade
ainda bulindo no peito:

desvelar a escuridão guardada
na enormidade de um sótão
que abriga histórias
em retalhos de chãos e paredes
que não se querem largar
de seus donos.

nestas longas linhas pretas
e noutras tantas que a menina traça,
tentam escapar notícias que se vão
trancadas à chave do tempo
mas se libertam na saudade
que se acorda sob a luz inexorável
de cada dia seguinte.


Se quiser, você tem Alternativa para ler.

Um comentário:

Diga, então...