quinta-feira, 25 de junho de 2015
Sol ardente
Passa, mas não passa
todo amanhecer é um juntar de histórias.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
o que passa [devagar como andor
em procissão de morto grande
ou num ligeiro de colibri a cortejar fêmea]
é a dor do sangue vertido em cada ato
é a sensação do gozo que foi alcançado.
em procissão de morto grande
ou num ligeiro de colibri a cortejar fêmea]
é a dor do sangue vertido em cada ato
é a sensação do gozo que foi alcançado.
todo amanhecer reúne vozes antigas.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
mas passa.
Receita de não salgar moqueca
Já saibam que eu
andava gabola pelos feitos culinários daqueles dias. Tudo começou com a
empolgação pelo primeiro caldinho de sururu e por ter motivo para me sentir
competente na autoria desse tipo de arte. Aconteceu que, na mesma semana,
tornei pública a melhor rabada que eu já provara — feita com um incrível
segredinho de batatas, dica do ex-marido —, e a delícia fez sucesso entre
todos os convivas (é certo que minha especialidade à época teve apenas
familiares para dar nota, mas são todos sinceros, eu juro).
Aproveitando a
maré de alta performance, aventurei-me numa moqueca de cação e comecei a
fazê-la do começo. Não, não pesquei o tubarãozinho da carta de Pero Vaz, mas
fui escolher o que havia de melhor nas bancas do Mercado Central e não escondo
que a assessoria do meu irmão mais velho foi decisiva para o bom desempenho
nessa parte da tarefa.
Para a etapa
cozinha, eu apostava no conhecimento que adquiri quando escalada para
assistente de minha mãe nos deliciosos almoços da melhor parte de minha vida.
Cabia-me machucar uns temperos e picar outros. Depois ficava ali, empenhada na
mexidinha do caldo, até a fervura do leite de coco, que era para não talhar
(será que talha?)
Tudo estava sob
controle, e eu não queria perder aquilo salgando demais o prato. Por isso, fui
naquele ritmo medroso, para acrescentar ao invés de ter que aplicar estratégia
de retirar o sal da moqueca. Primeira prova e... humm... sal nem de longe. Pus
um bocadinho mais, ainda timidamente. Segunda prova, e uma pequena alteração no
sabor, mas nem um indivíduo hipermegatenso e sem medicação sentiria aquilo.
Era chegada a
hora em que uma cozinheira de faz-de-conta perde o prumo. Enchi a mão.
"Quero ver se esse peixe não toma gosto!" Tomou. Gosto de açúcar. Até
hoje minha boca se enche de doce quando vê uma moqueca.
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