Deram-me, por professor, um louco. Louco do tipo que dá enormidade aos olhos, quando mira
a classe, e baba quando anuncia o tema do espetáculo que os normais costumam
chamar de aula.
Passava
o pente no cabelo denunciando a luta ganha pelo vento durante sua caminhada de
dois quarteirões até nossa sala, e ninguém seria capaz de adivinhar a condição em
que ficaria aquela generosa cabeleira ao fim do primeiro ato.
Quando
começava a função, punha-se quase além das pontas dos pés, parecendo querer
alcançar mais do que sua poderosa palavra podia. Num desses movimentos, por
vezes, fixava o olhar em algum ponto onde, certamente, via algo invejável. Seu
olhar lembrava o do meu amigo Nivaldo no dia em que, ganhando um brinde do
vento, deitou os olhos, pela primeira vez, na costura da bainha da saia de
Neiva.
Cinquenta
minutos depois, acabava a cena. Sem dúvida, pela necessidade de que outra
plateia também recebesse o convite ao delírio. Mas só se recompunha, de fato, no intervalo maior, o das dez e vinte, quando conversava
sobre amenidades com os seus pares.
Hoje
penso que esse louco tem parte da responsabilidade por meu
show. E eu nem tenho mais seus autógrafos, desenhados, mês a mês, na ponta de
uma Bic escrita fina, ratificando notas de 8 a 10, para o boletim.
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